Segunda-feira, 12 maio 2025
 
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Região aprende registrar acidentes no trabalho

Para os técnicos do CEREST a cultura dessa estatística ainda enfrenta tabus, preconceitos e desinformação.

Ilha Solteira - Hoje (28/04), quarta-feira, se comemora o Dia Internacional das Vítimas de Acidente e Doença no Trabalho. Para a região Alta Noroeste, a data é importante porque pela primeira vez se faz o anúncio de uma estatística ainda empírica e artesanal, mas que começa a revelar um quadro que até pouco tempo ficou escondido da opinião pública: são as estatísticas de acidentes no ambiente de trabalho em toda região.

Graças ao trabalho do CEREST - Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, que funciona há pouco mais de dois anos na cidade de Ilha Solteira, com ação em 12 municípios da região Alta Noroeste, é possível revelar que em 2008 aconteceram 1.574 acidentes com trabalhadores da região, sendo que em 2009 esse número subiu para 2.639 vítimas mas que, para os técnicos certamente a realidade ainda é mais dramática. A estatística ainda é falha.

Em dois anos, 20 pessoas morreram em decorrência de acidente do trabalho e outras 346 tiveram conseqüências graves na saúde. Cerca de 30% desse total são provenientes da principal atividade empregadora da região: o setor sucroalcooleiro. O setor rural, com as propriedades familiares, frigoríficos e prefeituras também registram elevados índices de acidentes ou doenças relacionadas ao exercício profissional.

Na verdade, o CEREST está implementando uma cultura de registro estatístico a analítico dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho e muitos municípios ainda não fazem esse acompanhamento, nem encaminham as informações para os técnicos. O CEREST planeja obter esses dados através de um programa de computador que faz cruzamento de informações. Até hoje para muitas empresas e até mesmo para os trabalhadores, existe um certo tabu sobre a divulgação das complicações de saúde provenientes do exercício da atividade profissional.

“Tanto empregador quanto empregado se sentem muitas vezes constrangidos em anunciar um acidente, tendo como causa o exercício de uma tarefa de trabalho”, afirma Ana Paula Tencarte, chefe do escritório do CEREST em Ilha Solteira.

Para ela, o principal ação do escritório do Centro de Referência nesses dois anos, foi capacitar a rede de informantes nas unidades de saúde, especialmente nos hospitais e prontos socorros de todos os municípios da região. São eles quem encaminham dados sobre as ocorrências, permitindo a análise técnica.

“O CEREST não tem uma função fiscalizadora nem punitiva; na verdade ele faz o alerta, promove a saúde e atua como preventivo, embora também seja um auxiliar da Vigilância Sanitária, quando os empregadores se recusam a tomar medidas para reduzir os riscos de acidentes ou doenças em suas empresas”, disse Vilma Okamoto, coordenadora Estadual do CEREST de São Paulo.

Segundo ela, é a análise desses acidentes e demais ocorrências envolvendo o trabalhador que vai direcionar os programas de saúde pública e toda política que o Estado conduzirá para prevenir e garantir o exercício profissional sem traumas para a saúde do trabalhador.