Terça-feira, 6 maio 2025
 
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Entrevista - Sobre águas subterrâneas

Professor da Unesp de Ilha Solteira é entrevistado sobre o tema

Ilha Solteira - Professor de Águas Subterrâneas e Ecohidrologia na Pós-Graduação em Engenharia Civil da Unesp de Ilha Solteira, Jefferson Nascimento de Oliveira foi entrevistado pela revista técnica Água e Meio Ambiente Subterrâneo, editada pela Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, em reportagem sobre reservas de águas subterrâneas, principalmente do Aquífero Guarani.

Para Oliveira, apesar da quantidade de águas dentro da reserva subterrânea ter capacidade para atender demanda maior que a atual, é necessário fazer uso racional e consciente, pois é uma fonte pura de água.

Segundo o pesquisador, além do risco de superexploração em alguns trechos, o risco de contaminação do aquífero é grande, se não tomados os devidos cuidados. Existe também o desperdício, que pode afetar a qualidade da água do aquífero. “Têm-se usado muito águas subterrâneas para lavar cana e abrir lagos em condomínios, o que é mau uso, já que retira um bem preciosíssimo para deixar evaporar”, avalia.

De acordo com o professor da Unesp, se o Brasil é a zona de recarga do aquífero e usufruímos dele, a preservação deve ser nossa preocupação em todo o tempo. Além de toda a análise necessária antes da perfuração, o monitoramento tem que ser feito constantemente para que não haja comprometimento do poço. “A zona de recarga é o coração do aquífero e não pode sofrer com qualquer tipo de contaminação, seja industrial, residencial ou agropecuária. Para isso, um rígido controle do tratamento e despejo de esgoto em regiões próximas ao aquífero ou de uma de suas formações se faz necessário. É preciso ter normas para garantir tanto quantativa quanto qualitativamente a produção do aquífero.”

Como o subsolo brasileiro é composto por rochas muito antigas, conhecidas como rochas cristalinas. Elas são a base das bacias sedimentares, onde há maiores possibilidades de se conseguir água para grande produção. As rochas cristalinas são bem duras e nelas há pouca água, portanto não é possível se ter grande vazão. Já nas rochas sedimentares, que são porosas e permeáveis, a água que infiltra o solo consegue se alocar dentro destas rochas, formando as bacias sedimentares. A maior dessas bacias no Brasil é a Paraná – que abriga o Aquífero Guarani, que tem extensão continental e nove formações.

Cada formação pode ser um aquífero, mas não necessariamente. Essas formações não são uniformes, mas sim compartimentadas: em alguns lugares têm alta porosidade e permeabilidade, em outros não. Por esse motivo, nem todas as bacias podem produzir grande volume de água, então, é muito importante a avaliação de um hidrogeólogo para indicar o melhor local e “destino” da água explotada na região – abastecimento público, indústria ou irrigação. “Tudo depende da hidrogeologia regional e local”, afirma Oliveira.

“No Brasil, a disponibilidade hídrica é de 350 mil m³ por pessoa. Em Israel, é de 30 mil m³ e não há preocupação com falta de água, pois a gestão é muito bem feita”, conta. O sistema hídrico israelense depende integralmente dos poços artesianos, pois o país está localizado em uma área desértica e a zona de recarga do aquífero fica na região norte e montanhosa de Israel, nas Colinas de Golan. O aquífero passa cerca de 500 metros abaixo do solo e não há desperdício de água, resultado de uma gestão precisa e tecnicamente qualificada. “Aqui no Brasil há o risco de escassez porque a grande concentração de água não está necessariamente onde há mais necessidade dela e não há uma gestão eficiente dos recursos. Falta infraestrutura”, diz Oliveira.