Sexta-feira, 3 maio 2024
 
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Juros recordes no cheque-especial e cartão de crédito – o que fazer?

Brasil - Os juros do cheque especial e do cartão de crédito atingiram patamares recordes, segundo dados do Banco Central desta quarta-feira (27). No caso dos juros do cheque especial, os valores subiram 5,6 pontos percentuais de março para abril, para 226% ao ano. Atingiu o maior valor desde dezembro de 1995, ou seja, 20 anos.

Já em relação ao cartão de crédito rotativo, os valores do juros são ainda maiores, assim, quando os consumidores não pagarem o total de suas faturas terão que pagar em abril o juros de 347,5% ao ano, frente a 345,8% ao ano em março.

O grande problema é que muitos consumidores brasileiros já recorreram ao menos uma vez a essas linhas abusivas de crédito, sem conhecer em detalhes o funcionamento do sistema e o quanto estão sendo prejudicadas em seus rendimentos. Isso é um comportamento de risco para o endividamento.

É fundamental o consumidor nunca esquecer de que o dinheiro do cheque especial pertence ao banco e que o restante do valor do mínimo do cartão de crédito também terá que ser ressarcido. E, a cada dia que deixar de repor o dinheiro emprestado, os juros estão correndo, aumentando cada vez mais da dívida.

As expressões “limite disponível” e “limite do cartão”, utilizadas pela maioria dos bancos e bandeira de cartão de crédito, ajudam a criar a ilusão de que todo dinheiro é do consumidor. Mas não é, muito pelo contrário,ele está se comprometendo com as linhas de empréstimos mais abusivas existentes.

O ideal não recorrer a essas ferramentas de crédito nem em casos de emergência. Mas se o uso for inevitável, é fundamental saber a taxa de juros cobrada pela instituição financeira, compará-la com a de outras instituições financeiras e fazer uma escolha consciente.

Ciclo do endividamento e como sair das dívidas

Para quem já está endividado nessas linhas a ação deve ser emergencial. Assim é preciso entender o ciclo do endividamento, que se constitui de Causas como analfabetismo financeiro, consumismo, marketing publicitário e crédito fácil; de Meios – cheque especial, cartão de crédito, crediário, crédito consignado, empréstimos, adiantamentos e antecipação do IR -; e de Efeitos – problemas conjugais, problemas de saúde, desmotivação, baixa autoestima, produtividade reduzida, atrasos e faltas no trabalho.

Para quebrar esse ciclo. Em geral, a ciranda financeira segue o seguinte compasso: se a prestação da casa ou do carro não está cabendo no orçamento, a pessoa passa a pagar todas as demais despesas no cartão de crédito, imaginando que assim sobrará recurso para pagar suas principais dívidas. Dentro de poucos meses, no entanto, já não conseguirá quitar a fatura do cartão e passará a pagar a parcela mínima, até que entre algum recurso extra. Mas isso não acontece e a saída é recorrer também ao cheque especial.

Chega o começo do outro mês e a história se repete. O salário recebido é suficiente apenas para cobrir o limite do cheque especial. Junto vem o débito referente aos juros do período mais a parcela mínima do cartão acompanhada de juros. Sem alternativa, deixa-se de pagar a prestação da casa ou do carro. Quando se dá conta, a pessoa está endividada de todos os lados, correndo o risco de ficar inadimplente e sem linhas de crédito. Há quem provoque a própria demissão para usar os recursos dos direitos trabalhistas para solucionar o problema. Quando percebem que o dinheiro não é suficiente buscam empréstimo. E assim vai até chegar ao fundo do poço.

A solução é fazer um levantamento detalhado de todas as dívidas, separando os itens em “essenciais” e “não essenciais”, priorizando o pagamento das essenciais para evitar o corte de serviços indispensáveis. Deve-se também priorizar as dívidas que têm as taxas de juros mais altas. Provavelmente serão as dos empréstimos adquiridos junto ao sistema financeiro.

Se assim for, o melhor é procurar o gerente e pedir que junte num mesmo pacote as dívidas de cheque especial, cartão de crédito e demais empréstimos e negociar uma linha de crédito diferente, mais alongada, com juros médios de 2,5%, cuja prestação seja menor do que o valor total dos juros que a pessoa pagava mensalmente.

A partir desse acordo com o banco, o devedor estará pagando não mais apenas os juros, e sim o valor principal, fazendo com que a dívida seja efetivamente liquidada ao longo do tempo. Se não houver possibilidade de acordo com a instituição financeira ou se a parcela negociada não couber no orçamento será melhor poupar para quando for procurado pelas empresas de recuperação de crédito contratadas pelos bancos, tenha melhores condições de negociar a quitação em valores menores.

(Reinaldo Domingos é educador e terapeuta financeiro, presidente da DSOP Educação Financeira, Abefin e Editora DSOP, autor do best-seller Terapia Financeira, dos lançamentos Papo Empreendedor e Sabedoria Financeira, entre outras obras).